Janeiro Roxo – Conscientização e combate à Hanseníase

Janeiro Roxo – Conscientização e combate à Hanseníase

Publicado em 27 de janeiro de 2023
Janeiro Roxo – Conscientização e combate à Hanseníase

A Hanseníase, antigamente chamada de Lepra, é uma doença tropical crônica e negligenciada causada pela infecção pelo Mycobacterium leprae ou M. lepromatosis. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) ocorrem em torno de 200 mil novos casos ao ano, sendo que praticamente 14% destes registros ocorrem em nosso país, o deixando em segundo lugar no ranking dos países com maior número de casos da doença, atrás apenas da Índia. A OMS estima que haja no mundo entre 3 a 4 milhões de pessoas vivendo com incapacidades físicas devido à Hanseníase.

Distribuição geográfica de novos casos de hanseníase (2019) informados pelos programas nacionais de Hanseníase à OMS. Obtido em: https://www.cdc.gov/leprosy/world-leprosy-day/index.html

O início de suas manifestações envolve o aparecimento de manchas na pele e perda de sensibilidade, sendo que a doença afeta principalmente nervos periféricos, pele e os olhos. Seus sintomas se não forem tratados, evoluem para incapacidades físicas irreversíveis, como cegueira e deformidades nos membros. As estratégias atuais de controle da hanseníase dependem do diagnóstico precoce e tratamento imediato para minimizar a morbidade progressiva da doença, assim como a interrupção da transmissão de casos clinicamente ativos.

A compreensão da transmissão da infecção por M. leprae e do processo da patogênese da hanseníase ainda é limitada, sendo que as evidências existentes sobre a transmissão são amplamente circunstanciais devido ao longo período de incubação da exposição à doença, à incapacidade de cultivar o M. leprae in vitro e à dificuldade de diagnosticar tanto a infecção quanto o início da doença hansênica. Estudos mostram que o M. leprae pode ser excretado em grande número pela boca e nariz de pacientes com hanseníase lepromatosa não tratada e, em alguns casos, pela pele, mas não está claro se pacientes com outras formas de hanseníase podem disseminar a bactéria, outros estudos mostraram evidências robustas de transmissão da doença por meio de contato com tatus selvagens. Supõe-se que a principal via de entrada do microrganismo no corpo seja pelo trato respiratório, embora existam estudos de caso sugestivos de transmissão pela pele por feridas e tatuagens.

Adaptado de: PLoS Neglected Tropical Diseases 2020 – Reservoirs and transmission routes of leprosy; A systematic review. Thomas Ploemacher, W. Faber, H. Menke, V. Rutten, T. Pieters: https://pdfs.semanticscholar.org/349e/3e3af8e3eba14fd385915af0c16e436fe1e8.pdf?_ga=2.139369587.1930437263.1673369918-2024870568.1672848329

Existe uma série de fatores que prejudicam o reconhecimento e tratamento precoce da doença a fim de evitar suas complicações e transmissibilidade:

  • Estigma sobre a hanseníase, que permanece forte na maioria das comunidades e inibe muitos indivíduos a procurarem cuidados médicos;
  • Compreensão incompleta de sua transmissão e conscientização sobre a doença em muitas comunidades;
  • Falta de ferramentas para monitorar a eficácia dos medicamentos;
  • Deficiência dos sistemas de saúde em áreas endêmicas.

Considerações sobre o diagnóstico clínico e laboratorial

O diagnóstico da hanseníase é realizado principalmente através do exame clínico, quando se buscam os sinais dermatológicos e/ou neurológicos da doença.

Nenhum exame laboratorial é suficiente para diagnosticar ou classificar a hanseníase. A Intradermorreação de Mitsuda, a baciloscopia e a histopatologia, geralmente, permitem diagnosticar e classificar a forma clínica. Sorologia, reação de imunohistoquímica e reação em cadeia da polimerase (PCR) são técnicas utilizadas principalmente em pesquisas.

  • Baciloscopia, após cuidadoso exame físico do paciente, seleciona-se a(s) área(s) de coleta, preferencialmente lesões, escolhendo-se as mais infiltradas, onde o bacilo encontra-se nas bordas da lesão.
  • Histopatologia, realizada através da biópsia de pele, é considerado o método mais sensível e específico para o diagnóstico. A Reação de imunohistoquímica, empregando anticorpos contra antígenos do Mycobacterium leprae, aumenta a sensibilidade e a especificidade em relação aos métodos convencionais, auxiliando no diagnóstico da hanseníase inicial ou paucibacilar.
  • Reação de Mitsuda, que é um teste de intradermoreação cujo antígeno é a lepromina , onde os Indivíduos com reação de Mitsuda cujo diâmetro é maior que 10mm, ou ulcerada, são geralmente resistentes ao bacilo, e não adoecem. A reação de Mitsuda, portanto, tem seu valor maior relacionado ao prognóstico.
  • Sorologia IgM anti-PGL1, e mais recentemente um teste rápido que foi desenvolvido para ser utilizado em campo, denominado ML-Flow.
  • Identificação molecular de Mycobacterium leprae pela técnica de PCR detecta, quantifica e determina a viabilidade do Mycobacterium leprae. Amplifica sequências do genoma bacilar, identificando o fragmento de ácido desoxirribonucleico ou ribonucleico amplificado. É específica e sensível, podendo ser realizada em várias amostras. Diferentes primers, tamanho dos fragmentos amplificados e técnica de amplificação são fatores que interferem nas taxas de detecção.

Um ponto importante sobre o tratamento é que ao iniciar o uso de antibióticos para combater a doença, o indivíduo infectado deixa de transmiti-la, não sendo necessário portanto seu isolamento ou qualquer tipo de preconceito com pessoas acometidas. Preconceito este que no passado gerou atrocidades com os portadores da doença, como por exemplo entre a década de 40 e até início da década de 80 onde o governo federal capturava os portadores de Hanseníase, os isolava e obrigava a viverem em colônias chamadas “Leprosários”, política que foi reconhecido como crime de estado anos mais tarde.

Este estigma do passado deve ser veemente combatido e a melhor forma de fazer isso é por meio do conhecimento, o que justifica as campanhas de conscientização sobre o tema adotadas pelo ministério da saúde como o “Janeiro Roxo” instituído em 2016 para abordar este tema.

Abaixo listamos 7 perguntas e respostas sobre a Hanseníase obtidas na webpage do Centro para Controle de Doenças e Prevenção americano (CDC):

A Hanseníase é muito contagiosa (fácil de pegar)?

R: A Hanseníase é difícil de pegar. Na verdade, 95% dos adultos não podem contrai-la porque seu sistema imunológico pode combater a bactéria que causa a doença.

A Hanseníase pode fazer com que os dedos das mãos e dos pés caiam?

R: Os dedos não “caem” devido à Hanseníase. A bactéria que causa a doença ataca os nervos dos dedos das mãos e dos pés e os deixa dormentes. Queimaduras e cortes em partes dormentes podem passar despercebidos, o que pode levar a infecção e danos permanentes e, eventualmente, o corpo pode “reabsorver” o membro. Isso acontece em estágios avançados da doença não tratada.

A “Lepra” descrita nos textos históricos é a mesma Hanseníase que conhecemos hoje?

R: A lepra histórica não é a mesma que a Hanseníase moderna. A “lepra” encontrada em textos históricos e religiosos descrevia uma variedade de condições de pele, desde erupções cutâneas e manchas na pele até inchaço. Foi considerado muito contagiosa, o que não é verdade para a doença de Hansen. A lepra histórica também não apresentava alguns dos sinais mais óbvios da hanseníase moderna, como desfiguração, cegueira e perda da sensação de dor.

As pessoas com hanseníase precisam morar em casas especiais isoladas de pessoas saudáveis?

R: As pessoas com hanseníase que estão sendo tratadas com antibióticos podem levar uma vida normal com sua família e amigos e podem continuar a frequentar o trabalho ou a escola.

Você pode pegar Hanseníase ao sentar-se ao lado de alguém que tem a doença?

R: Você não pode pegar Hanseníase por contato casual, como apertar as mãos, sentar ao lado ou conversar com alguém que tem a doença.

Existe cura para a Hanseníase?

R: A Hanseníase pode ser curada com tratamento antibiótico.

Por quanto tempo alguém com hanseníase é “contagiosa”?

R: Uma pessoa não é “contagiosa” após alguns dias do início do tratamento com antibióticos. No entanto, o tratamento deve ser finalizado conforme prescrito (o que pode levar até 2 anos) para garantir que a infecção não volte.

Bibliografia:

A HANSENIASE – https://www.misodor.com.br/HANSENIASE.php

UFPR – Teste sorológico traz novas perspectivas para o diagnóstico da hanseníase – https://www.andifes.org.br/?p=90183

Estimating underreporting of leprosy in Brazil using a Bayesian approach
de Oliveira GL, Oliveira JF, Pescarini JM, Andrade RFS, Nery JS, et al. (2021) Estimating underreporting of leprosy in Brazil using a Bayesian approach. PLOS Neglected Tropical Diseases 15(8): e0009700. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0009700

Mariko Sugawara-Mikami, Kazunari Tanigawa, Akira Kawashima, Mitsuo Kiriya, Yasuhiro Nakamura, Yoko Fujiwara & Koichi Suzuki (2022) Pathogenicity and virulence of Mycobacterium leprae, Virulence, 13:1, 1985-2011, DOI: 10.1080/21505594.2022.2141987

Ploemacher, Thomas, William R. Faber, Henk E. Menke, Victor P.M.G. Rutten and Toine Pieters. “Reservoirs and transmission routes of leprosy; A systematic review.” PLoS Neglected Tropical Diseases 14 (2020): n. pag.

https://pdfs.semanticscholar.org/349e/3e3af8e3eba14fd385915af0c16e436fe1e8.pdf?_ga=2.139369587.1930437263.1673369918-2024870568.1672848329

Leprosy – Updated: Jun 05, 2020 – Author: Darvin Scott Smith, MD, MSc, DTM&H, FIDSA; Chief Editor: Michael Stuart Bronze, MD. https://emedicine.medscape.com/article/220455-overview?reg=1&icd=login_success_email_match_norm#a5

World Leprosy Day: Bust the Myths, Learn the Facts – https://www.cdc.gov/leprosy/world-leprosy-day/index.html

Hanseníase: diagnóstico e tratamento;Joel Carlos LastóriaI, Marilda Aparecida Milanez,Morgado de AbreuII

Universidade Estadual Paulista, Botucatu, Hospital Regional e Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente

Diagn Tratamento. 2012;17(4):173-9.

Conteúdo elaborado por Thiago Guerino – Gerente de Produto do Brasil Apoio e Dra. Claudia Partel – Coordenadora Médica